"Uma grande verdade sobre mim é que eu sou louca. Nasci doida e provavelmente morrerei assim também. Eu não entendo o que fazer para ser normal; eu enxergo o imaginável, o intocável. Tenho uma inenarrável dificuldade de ver o óbvio. Dito isso, eu não posso prometer felicidade à ninguém. Nunca foi uma constante para mim e, sim, uma busca. Não posso prometer que irei esquecer as diferenças, que as antigas brigas não trarão novas. Não posso prometer que vou me manter firme e forte independente da adversidade. Não mesmo. Eu vou desmoronar, eventualmente. Vou me dilacerar. Vou gritar em puro desespero. E pode ser que eu diga coisas das quais não me orgulhe. Pode ser que eu minta e que eu pareça me divertir com isso. A questão é que eu não vou te deixar em cima do muro, não vou te deixar ser meio termo. Não vou respeitar sua dor, nem a grandeza de seus problemas efémeros. Eu vou te incitar a ter suas maiores loucuras, vou te levar aos extremos. Vou te fazer perder a cabeça, o sono e o medo.
Eu não posso te prometer uma última esperança porque sequer permitirei que você desista. Eu não posso prometer que serei compreensiva com seus erros mesmo que eu os perdoe. Não vou lembrar de datas especiais, tampouco de lugares memoráveis. Eu vou viver no teu melhor sorriso, vou brilhar no reflexo dos seus olhos. Vou cantar a nossa música errada e vou rodopiar na chuva suja de terra. Eu vou palpitar com suas pequenas vitórias, te vangloriar por quase imperceptíveis atitudes. Eu vou ser a melhor e a pior parte de ti.
Eu vou bagunçar tua rotina. Trocar seus enfadonhos cartões de negócios por bilhetinhos românticos. Vou atrapalhar a sua paz, te sacudir os ombros quando estiver cansado. Para cada derrota que me contar, te direi três conquistas. Eu vou ser realista da tua alma, te conhecer no antro do seu silêncio. Vou inventar um vergonhoso dialecto em códigos e te obrigar a entender as variações. Eu quero que qualquer coisa entre mim e você seja única. Quero ser teu colo e teu apelo. Mas não quero que jamais se refira a mim como seu tudo, sua metade, seu complemento. Não posso te prometer ser nada, quem dirá, tudo.
Eu vou torcer para que você se desleixe e eu possa cuidar. Vou torcer para que se perca e me permita te achar. Vou torcer o nariz para quem já te fez bem por mero ciúmes por não ter sido eu. Vou abrir o sorriso para quem te fez mal como recompensa de ter te ajudado a ser quem é. Vou enxergar arco-íris em poças d’águas e, possivelmente, te forçar a caçar borboletas que nunca vi. Vou reinventar toda história com o final triste para te roubar gargalhadas.
Vou decorar seus passos tortos, te seguir sem perguntar, te censurar de olhos fechados. Vou me incomodar com o grave tom da sua voz pela manhã, ainda que seja a melhor parte do meu dia. Vou fazer birra estando errada e ficar furiosa se não for adulada. Vou confundir tuas palavras e usa-las a meu favor. Vou te doar todos os cómodos da minha casa, todo centímetro do meu corpo. Vou devorar o teu ciúmes, esperar de braços abertos a sua chegada.E se um dia, por acaso, quiser me deixar, eu vou engolir seco, prender o choro e abrir a porta. Eu vou te deixar ir mesmo que nunca volte e mesmo que sequer se arrependa. Eu vou te deixar ir porque quero ser quem te acrescenta; sua alavanca e, não, sua âncora. Eu vou te deixar ir porque não te prometi felicidade. Eu não posso. A única coisa que eu garanto é que você nunca ficará entediado ao meu lado."