30 de julho de 2011


 
"Olha, eu sei que o barco está furado e sei que tu também sabes, mas queria-te dizer para não parares de remar, porque ver-te a remar dá-me vontade de não querer parar também. Estás a entender? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só pedires. Nem precisas de jeitos certos, só dizeres e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas para isso preciso de saber se vais também. Porque sozinha, não vou. Não tenho como remar sozinha, eu ficaria a girar em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se prometeres remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. (...) Mas tens que prometer que vais remar também, com vontade! (...) Eu desisto rapidamente,tu sabes. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só pedires. Perco o medo de dirigir só para atravessar o mundo para te ver todo o dia. Mas tens que me prometer que vais remar comigo. Mesmo que esse barco estiver furado eu vou, basta pedir. Mas nós temos que nos afundar e descobrir que é possível nadarmos juntos. Eu ensino-te a nadar, juro! Mas tens que me prometer que vais tentar, que te vais esforçar, que vais remar enquanto for preciso, enquanto tiveres forças! Tens que me prometer que essa viagem não vai ser á toa, que vale a pena. Que por ti vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar"

Caio Fernando Abreu

(Reescrito em português)

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