corpo pesado, mente exausta, coração quebrado e pensamento a
pedir demissão: é assim que chego ao fim do dia.
hoje é mais uma noite; mais uma em que as horas não
passam, em que a lua se esconde e que as nuvens choram. sentada no chão da
varanda de cotovelos nos joelhos, encosto o queixo na palma das mãos e tento disfarçar a insónia com cara de sono mas os olhos não fecham e a mente não se cala. a brisa gelada arrepia-me, as gotas salpicam-me a roupa e a escuridão abraça-me.
será mais uma madrugada agoniante, parada a ver a noite
passar à minha frente; o telemóvel apenas está autorizado a passar o som da música que oiço enquanto tudo o resto está em silêncio para que não me incomodem ou eu não possa incomodar ninguém. viajo no espaço sem cálculo de volta, divagando perdida por memórias.
de olhos inchados e cansados já não choro, pasmo em dor a olhar em frente como se a minha retina congelasse na tua imagem e passo toda a noite sem dormir a vê-la. esqueço-me de sentir enquanto penso e esqueço-me de pensar enquanto te vejo.
preferia nunca te ter encontrado para nunca ter de te ver ir embora; preferia que nunca me falasses para nunca ter de ensurdecer com o teu silêncio. preferia dormir uma semana inteira sem sonhar do que sonhar acordada contigo a toda a hora.
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