13 de julho de 2010

passado ou futuro?


inclinou-se sobre a varanda e observou a imensidão da noite, escura, intensa e misteriosa.
recriou os momentos, os sentimentos que a corroeram, as palavras ásperas que absorveu durante aqueles assombrosos meses e finalmente como um enorme alivio "acordou" com lágrimas a escorrerem pelo seu pesaroso rosto.
não quereria por nada deste mundo voltar ao passado, sobreviver á solidão presa entre quatro paredes sem desejar ver ninguém, ou sequer a própria luz do dia.
era capaz de jurar que iria ter coragem de revelar o que lhe ia verdadeiramente na alma, no coração mas mais uma vez para fingir a dor, negou e chorou ainda mais com repugnância do seu receio. "E agora?", pensou ela por alto sem nunca imaginar que uma simples pergunta lhe iria doer tanto a soletrar.
enquanto ouvia aquela voz austera ao telefone, só desejou que esta se calasse pois não suportava a sua própria agonia de imaginar o que poderia acontecer.
após dois anos, o passado continuava a aterrorizá-la de um modo tão indescritivel que as suas noites eram passadas acordada em frente ao computador a (tentar) divertir-se no facebook ou a falar com a melhor amiga no messenger e quando adormecia, acordava a meio da noite com pesadelos e chorava como perdida ainda a recordar as imagens que o seu subconsciente lhe transmitira.
será que ela poderia confiar nas palavras que ele lhe prometeu? ou iria mais uma vez reviver o seu maior medo? sem dar por ela, a voz do outro lado ainda não se tinha silenciado e ela continuava com os seus pensamentos angustiantes e com o seu choro pesaroso e sem fim.
desejou ocultar-se a si mesma e enterrar os seus pensamentos assombrosos mas tornou-se impossivel, desejou dizer-lhe a verdade mas não era capaz, desejou que ele lhe garantisse o melhor mas iria ser dificil de acreditar, desejou acabar com o medo mas esse medo já se tinha instalado na sua alma (...)
despediu-se dele friamente e encostou-se á parede com as mãos na cabeça desesperada, dirigiu-se ao seu quarto e deitou-se lentamente na sua cama a olhar para a moldura da sua mesa de cabeçeira e finalmente esboçou um sorriso timido. nunca percebeu bem as escolhas dele mas nunca na sua vida desistiu dele, sempre preferiu sair ela a magoada e de tantas opções que lhe colocaram á frente, preferiu sempre sofrer! ela quis, ela tentou, ela desejou e acreditou na mudança mas e agora se correr mal, no que há-de acreditar ?!

(Fotografia: Guilherme Santos)


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